Fonte: Diario do Gde ABC
O automóvel é um dos principais bens de consumo visados pelos bandidos. Isso não é novidade para ninguém, certo? Basta ver os números de furto e roubo no primeiro trimestre do ano para se ter uma noção. Em São Bernardo, por exemplo, 789 unidades foram alvo dos criminosos. Já em Santo André, os números são ainda mais expressivos, com 876 carros furtados ou roubados, fazendo com que a cidade seja a líder do ranking no Grande ABC, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Para tentar driblar a ação dos bandidos, muitos consumidores apelam para bloqueadores e rastreadores de veículos. A novidade é que estes dispositivos deverão sair de fábrica na compra de veículos zero-quilômetro ainda neste ano, segundo a Resolução 245 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Ao consumidor, fica o direito de escolher se ativa o componente, passando a pagar a assinatura do serviço de rastreamento.
Apesar de visar a segurança dos motoristas, a medida gera polêmica. O diretor executivo da Gristec (Associação das Empresas de Gerenciamento e Tecnologia de Rastreamento e Monitoramento), Wanderley Sigali, vê a resolução de maneira positiva. Para ele, haverá benefícios a todos os envolvidos, desde as fabricantes de bloqueadores - que devem ter maior demanda e produção - até seguradoras, que poderão vender mais apólices devido ao menor número de furtos e roubos.
A opinião é partilhada pelo gerente técnico da Ituran, Fábio Nonis. Para ele, essa é uma "oportunidade única para desmistificar os serviços de localização e monitoramento, mostrando à sociedade os seus benefícios."
Já o diretor de marketing e tecnologia da Car System, Elcio Vincentim, é mais cauteloso: "Existem fatores que devem ser melhor discutidos, como a padronização da instalação dos equipamentos nos veículos, o que facilita a ação dos ladrões." Outro ponto a ser debatido é o grande número de fornecedores necessários para que a solução possa ser viabilizada (montadoras, fabricantes do dispositivo antifurto, empresas de monitoramento e telefonia móvel). "Isso pode dificultar o entendimento do usuário no momento da prestação do serviço ou assistência técnica", diz.
A medida agradou ao consultor de vendas Kauê Mendes, 22 anos, uma vez que o consumidor não será obrigado a assinar serviços de rastreamento. Ele acredita ainda que montadoras e seguradoras vão fazer preços mais atrativos diante da concorrência que deve ser intensificada.
IMPASSE
A Resolução 245 passaria a valer em setembro, mas há rumores de que seja adiada. De acordo com o diretor da Gristec, Wanderley Sigali, as empresas de monitoramento e rastreamento pediram mais dois meses para execução de testes. Pelo mesmo motivo, as montadoras pediram mais quatro meses para a medida passar a valer. Ela vem sendo adiada desde abril de 2009.
Quem deve decidir a validade da resolução é o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), que foi contatado mas não deu esclarecimentos sobre o assunto.
Seguro mais barato?
A medida do Contran tende a ser benéfica para as empresas seguradoras caso parta do sguinte princípio: quanto menor o índice de crimes contra carros com sistema anti-furto, menor o valor a ser pagos em apólices.
Segundo o gerente técnico da Ituran, Fabio Nonis, "é comum haver clientes procurando por serviços da empresa como uma alternativa aos seguros ou para obtenção de descontos nas apólices."
O diretor de proteção e monitoramento da Porto Seguro, José Luiz Ferreira, prefere ir com mais calma. "Não há como dizer se as apólices serão barateadas, é preciso se analisar a realidade do momento. Pode acontecer dos novos carros serem mais visados pelos bandidos porque eles saberão onde os bloqueadores estarão localizados."
Para tirar a prova real, cotamos o preço de três seguradoras com perfil médio de consumidor: homem, 33 anos de idade, casado, sem filhos e morador do Centro de São Bernardo. O valor de uma delas ficou 23% mais em conta em um carro com rastreador. As demais empresas não deram desconto por não considerar necessário o uso do aparelho no bairro referido. (Veja mais detalhes na tabela abaixo).
Medida tem contradições
Mesmo no papel desde 2006, a resolução do Contran que determina a implementação de sistema anti-furto em veículos zero-quilômetro de fábrica, ainda traz pontos contraditórios.
Um deles é o fato de que os aparelhos bloqueadores não podem ser alterados ou retirados, mesmo se não forem utilizados pelo motorista. A questão é: se o dispositivo for alvo de ataques de bandidos, como o condutor vai provar que não foi ele quem tentou alterar o objeto?
De acordo com o diretor da Gristec, Wanderley Sigali, a resposta é simples. Basta fazer boletim de ocorrência e apresentá-lo à concessionária, onde o reparo será feito.
Para a professora Márcia Belmont, terá mais uma dor de cabeça, já que ela não usaria os serviços do aparelho. "Eu gostaria se outros serviços fossem feitos de fábrica, como freio ABS ou faróis de neblina", complementa.
A ideia é partilhada pelo consultor automotivo Francisco Satkunas. Ele entende que o custo de produção sobre o aparelho vai ser repassado para o consumidor. "De início, as montadoras devem dar incentivos para o consumo, como isenções de mensalidades, mas depois o custo vão cair sobre suas costas."
O consultor defende que o Brasil poderia usar o exemplo dos Estados Unidos, onde os aparelhos possuem tecnologias úteis ao usuário, como sistema de navegação e quilometragem percorrida, por exemplo.
Satkunas acredita ainda que o sistema de rastreamento pode servir como maneira de controle pelo governo. Em um cenário em que se estuda a implementação de rodízio urbano, há formas de saber quando (aonde) o carro está rodando. Há também a possibilidade de se calcular a velocidade média do veículo, podendo assim saber se o motorista respeita a velocidade máxima regulamentada nas vias.
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