Fonte: Estado de S. Paulo - Data: 06/05/2013
Aumento da inflação pode elevar o preço dos seguros, já que o rendimento
das aplicações financeiras está cada vez mais apertado.
Aumento da inflação pode elevar o preço dos seguro |
A presidente da República disse que não flerta com a inflação. De outro
lado, o ministro da Fazenda não sabe o que fazer com ela e o Banco Central dá
sinais de que pode elevar os juros num ritmo mais rápido do que vinha dizendo
que faria. Tudo isso para dizer que a inflação está aí, num patamar bem menor do
que já tivemos, mas bem mais alta do que esteve desde a estabilidade da
moeda.
Inflação alta é ruim para todos. Mas é ainda pior para os mais pobres. Na
medida em que quem ganha menos tem de pagar mais, de forma absoluta, a
matemática fica ainda pior de forma relativa. R$ 10 o quilo do tomate é R$ 10
para o pobre e para o rico. O que muda é que, porcentualmente, R$ 10 é muito
mais para quem ganha um salário mínimo do que para quem ganha 20 salários
mínimos.
Como todo mundo já sabe que este ano a inflação se manterá acima da meta, é
torcer para que em 2014 o governo tome as medidas necessárias para trazê-la para
baixo, o que, desde já, gera sérias dúvidas, em função das eleições
presidenciais.
Se toda a economia é afetada negativamente pela inflação, alguns setores
sofrem mais do que os outros. É o caso do setor de seguros. Poucas atividades
dependem tanto da estabilidade da moeda e da inflação baixa para crescer de
forma consistente quanto ela.
Muita gente que atualmente ocupa cargos importantes na vida econômica
nacional pode não se lembrar como era, mas até 1994 o Brasil não conseguia ter
poupança. Por mais indexada que a economia estivesse, a inflação corria sempre
na frente, destruindo o valor de compra da moeda. O ritmo de desvalorização
atingiu tal velocidade que, após um determinado momento, as apólices de seguros
não eram emitidas em moeda corrente, mas com um índice que era multiplicado pelo
valor do dia, resultando no valor em moeda que deveria ser pago, tanto para
efeito do prêmio do seguro, como para as indenizações.
Estamos longe disso e ninguém fala num cenário semelhante para a economia
brasileira. O problema é que a inflação não deixa barato, é abrir um pouco a
guarda e ela pega pesado. Que o diga a Argentina, onde os índices reais estão
próximos dos 20% ao ano, por conta duma subidinha aqui e outra ali, todas
toleradas em nome do antigo e bom populismo que se instalou no país.
O problema grave e que parece que o governo brasileiro não consegue
entender é que a inflação não é a causa, mas o sintoma de desencontros profundos
na base da economia nacional.
Por conta da inflação, atualmente poucas aplicações dão retorno positivo
para o investidor. A regra vale para pessoas físicas e jurídicas e tem forte
peso nas atividades que compõem o setor de seguros.
Especialmente nos seguros, planos de saúde privados e previdência privada
aberta, o resultado da aplicação do faturamento no mercado financeiro costuma
reduzir o preço final do produto.
O melhor exemplo é o seguro de veículos, que, diga-se de passagem, está com
resultado médio medíocre. Em função da concorrência acirrada, da alta
sinistralidade e da queda dos juros, várias seguradoras já estão amargando
prejuízo na carteira.
Para chegar no preço do seguro, grosso modo, a seguradora soma os sinistros
pagos, as despesas comerciais e administrativas, a carga tributária e o lucro
esperado. O valor encontrado é o resultado puro do negócio e deve corresponder
ao prêmio cobrado. Mas, como ela aplica o dinheiro dos prêmios recebidos, ela
pode adicionar o seu resultado à conta e assim baratear o seguro.
Como nos seguros de veículos a concorrência é muito grande – o que reduz as
margens, a sinistralidade está alta, a inflação está alta e os juros reais
caíram, o resultado do negócio de várias seguradoras está negativo e isso pode
ser visto nos balanços do ano passado e do primeiro trimestre de 2013. O duro é
que quando essa soma de resultados negativos acontece, depois de um tempo, a
única saída é aumentar os preços, ou seja, no final quem paga a conta é o
segurado.
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