Há alguns dias, por ser executivo de seguros, recebi uma veemente reclamação de pessoa de meu relacionamento, alegando que não podia admitir que, enquanto o valor de seu carro, um Corsa Sedan 2001, havia sofrido depreciação por tempo e uso, o preço do seguro do mesmo veículo havia crescido quase 20% de um ano para o outro, contando todos os descontos de renovação a que tinha direito. Constantemente ouço esses comentários.
Esse raciocínio seria válido se o seguro fosse apenas para pagar a perda total do veículo, sem considerar outros acidentes, como os das "batidas", chamados perdas parciais.
A reparação de veículos é feita com peças novas, que ao contrário de se depreciarem como o veículo usado, acabam por sofrer correções e sempre com percentuais muito maiores que os de ajustes dos veículos aos quais compõem, de acordo com as tabelas das montadoras.
Hoje lendo matérias do Diário do Comércio e de O Estado de São Paulo sobre a ação movida pelo Ministério Público contra as quatro grandes montadoras, vi demonstrado o que há muito se sabia, mas que há tempos não se comentava: qual o valor de um veículo em condições de uso e o mesmo montado peça a peça.
Há que se fazer uma importante ressalva no que foi apresentado: não se computou o valor de mão-de-obra de funilaria e pintura nas montagens dos veículos e, que somado, aumentaria para mais de oito vezes as somatórias das peças que compõem os veículos em relação ao valor de mercado do bem.
Existem ainda dois outros fatores que pioram ainda mais a situação para o consumidor final. Um é a questão do IPI incentivado para o veículo com 1.000 cilindradas, considerado popular, e o outro são os impostos em cascata, incidentes pelo passeio das peças entre fabricante, montadora, concessionária distribuidora e consumidor final.
O carro 1.0 tem o IPI fixado por incentivo temporário em 8% para incrementar suas vendas. O mesmo modelo de veículo, com motorização acima de 1.0 até 2.0, tem IPI de 14%. As autopeças desses veículos que, com exceção das internas do motor, são idênticas entre si, têm IPI de 18%, com um descasamento de 10 pontos percentuais sobre o IPI de venda do veículo. Sem incentivo também estaria descasado em quatro pontos percentuais.
Diante dessa situação, à medida que aumentam os preços das autopeças também aumenta a procura por peças "depreciadas" e compatíveis com os valores de veículos de maior idade. Normalmente essas peças estão disponíveis em duas redes conhecidas, que são a "Robauto" e a "Carrefurto". Em outras palavras, a cada aumento de peças aumentam o preço médio de reparação, o roubo e furto de veículos e as fraudes, fatores que influem diretamente nos preços dos seguros.
O setor de seguros de automóveis, de acordo com as estatísticas disponíveis pela Federação das Seguradoras, apresenta um índice combinado (receitas operacionais x despesas operacionais) girando em 115%, o que equivale a dizer que a cada R$ 100 arrecadados se paga 115% entre sinistros, custos operacionais e administrativos.
A diferença tem que ser tirada da receita financeira, que enfrentou forte queda no fim de 2003 e começo de 2004, com aumento no último trimestre.
É evidente que as seguradoras necessitam corrigir seu desempenho operacional, mas para isso é imprescindível aumentarem seus preços; não o fazendo ainda em percentuais maiores em razão da queda do poder aquisitivo do consumidor.
O aumento da demanda de bens duráveis se deu pelo financiamento, principalmente a juro baixo ou subsidiado. Não existe esse tratamento para venda de peças.
Desta forma, apesar do aumento da venda de veículos, é notório a queda de procura de seguros de veículos, principalmente os populares, com mais de cinco anos de uso: o consumidor não tem disponibilidades e pelos preços das peças novas, qualquer acidente pode se constituir em perda total, fazendo-o perder o financiamento de compra conseguido. A seguradora exigirá a quitação do contrato e a financeira o pagamento antecipado, para liberar a garantia.
A crescente procura por margens maiores em autopeças, por parte das montadoras, está se transformando em "tiro no próprio pé", pois dificilmente o consumidor vai procurar por peças genuínas ou originais em balcões de concessionárias, optando por peças genéricas, a exemplo dos remédios. Outra alternativa é a procura em desmanches, muitos ligados ao crime, fazendo deste último o seu principal concorrente.
*Claudio Afif Domingos é diretor-vice-presidente da Indiana Seguros e presidente do Conselho de Prevenção à Fraude em Seguros da Fenaseg
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