Fonte: DIÁRIO DO GRANDE ABC
Adriana Gomes
Parati, Uno Mille, Palio e Gol são os quatro carros mais citados por corretores e outros profissionais da área de seguros como os mais visados por ladrões no Grande ABC. Embora ressaltem que a questão da sazonalidade está sempre presente quando o assunto são veículos alvos de criminosos, a maioria dos entrevistados pelo Diário citou esses modelos como os atuais favoritos das quadrilhas.
`O seguro da Parati, por exemplo, já é considerado inviável na região. É um carro muito visado pelos ladrões devido ao mercado de reposição de peças`, explica José Valdemir Barbosa Júnior, 36 anos, sócio-proprietário da JWE Seguros, corretora situada em Rudge Ramos, São Bernardo. Ele cita outros modelos queridinhos dos criminosos além daqueles quatro supostamente primeiros colocados no ranking: Astra e Vectra. `São não-esportivos com taxa elevadíssima de roubos e furtos`, afirma.
Os assaltantes, sempre atentos às tendências do mercado a cada período, sabem o que estão fazendo. Os modelos das linhas Palio e Uno registraram aumento significativo de preço recentemente e passaram a ser ainda mais visados. `A alta de preço desses carros chegou a 40%`, informa Barbosa Júnior.
Carlos Alberto Pelais, 47 anos, proprietário da Pelais Corretora, no Centro de Santo André, e delegado regional do Sincor (Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São Paulo), acrescenta outros modelos à lista dos carros preferidos das quadrilhas: Pajero, Vectra e as picapes Dakota, S10 e Silverado. `Mas isso muda muito de acordo com a época. A Parati parece que ficou mais visada de um ano para cá. Mas o Vectra também está complicado. E, no geral, os populares com motor mil sempre são alvos.`
O delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto de Souza Ferreira, 65 anos, disse quarta-feira que não seria possível levantar dados precisos sobre os alvos favoritos do ladrão. A seccional abrange também as cidades de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. `Sei que o Vectra e todos da linha GM são muito visados. Mas não acho que ladrão tenha assim tanta escolha`, diz.
Preço triplicado
O fato é que as estatísticas penalizam sobremaneira os proprietários de carro que têm seguro no Grande ABC. Em alguns casos, o preço chega a triplicar na comparação com aquilo que pagam donos de carros que vivem em outras regiões metropolitanas do país. Barbosa Júnior, da JWE Seguros, dá um exemplo daquilo que pode ser chamado de custo ABC. Segundo ele, o preço médio do seguro de um Uno Mille 2003 para um morador de Florianópolis (SC) é de R$ 450 (valor anual). Um morador de Santo André dono do mesmo modelo paga nada menos que R$ 1,3 mil, quase três vezes mais. `E R$ 1,3 mil se for para uma seguradora barateira`, emenda Carlos Alberto Pelais, delegado regional do Sincor.
Os preços altos acabam com a fidelidade do corretor. `As seguradoras vivem um jogo de rouba-monte. O que tiver o melhor preço, leva o cliente`, explica Ricardo Benedito, dono da Tecnoseg Administração e Corretagem de Seguro, em São Bernardo. `Certamente, muitas companhias atuando no Brasil não querem mais saber do ABC`, diz um dono de corretora que prefere não se identificar.
Do outro lado da polêmica, Souza Ferreira, delegado seccional de Santo André, considera injusto o critério das companhias seguradoras. `Além de estarmos diminuindo a incidência desse tipo de crime, afirmo que cerca de 50% dos veículos roubados são recuperados. As companhias ignoram isso no cálculo do preço do seguro`, sentencia.
`Já pedimos ajuda para o governador Geraldo Alckmin, para prefeitos, para meio mundo, para que as companhias de seguros vejam o Grande ABC de maneira diferente. Sabemos que a região não é santa, aqui há saídas para a Dutra, a Anchieta... mas isso tudo ainda não justifica o preço`, declara Carlos Alberto Pelais, do Sincor. Ele dá um exemplo comum: o morador da região cujo veículo apenas permanece à noite na garagem. No resto do dia, esse motorista morador do Grande ABC circula por diversas outras regiões da Grande São Paulo onde o seguro é mais barato. Apesar dos atenuantes, essa pessoa acaba pagando preço elevado devido ao estigma da região, mesmo passando pouco tempo no Grande ABC.
De acordo com os corretores, as grandes seguradoras que aceitam integralmente veículos de moradores da região passaram a oferecer para os clientes aparelhos rastreadores via satélite, na tentativa de diminuir os prejuízos. O mecanismo tornaria o preço do seguro menos salgado e a possibilidade de sinistro, em tese, diminuiria. O aparelho não tem custo adicional para o segurado, já que é cedido em sistema de comodato.
Entretanto, é importante lembrar que há outros critérios que determinam o preço do seguro, além do índice de criminalidade na região onde o segurado vive. `Sabemos, por exemplo, que 85% das colisões nos finais de semana envolvem motoristas de até 25 anos. Desses, apenas 12% são mulheres`, exemplifica Dirceu Tiegs, diretor da unidade de Estrutura Territorial da Mapfre Seguros, para explicar por que as motoristas costumam pagar um pouco menos pelo seguro. Tiegs também lembra que não se deve comprar carro sem consultar um corretor. Afinal, em região onde os ladrões costumam ganhar a guerra, o melhor é diminuir as possibilidades de roubos e furtos.
Colaborou Cláudia Fernandes
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