A ferramenta, que pode chegar em breve ao Brasil, foi apresentada no principal evento anual da empresa, realizado na semana passada, em San Francisco.
É a segunda incursão do Google nas finanças pessoais: o Wallet, que ameaçava pôr em xeque os negócios de outros intermediadores digitais, como o PayPal, nunca decolou. E iniciativas parecidas, como da Square, sofrem para se massificar.
| Editoria de Arte/Folhapress | |
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A história pode ser diferente agora, dada a força da empresa entre smartphones –em 2014, foram vendidos 1 bilhão de aparelhos com seu sistema operacional.
O Android Pay, como foi intitulada a tecnologia, usa a tecnologia NFC (para transmissão de dados entre aparelhos próximos), com a qual grande parte dos smartphones atuais vem equipada. O sistema também é usado no Apple Pay –análogo da rival que foi introduzido no mercado americano antes, no fim do ano passado.
Para fazer um pagamento, o usuário deve ter as informações do cartão cadastradas na conta do Google. Depois, é preciso aproximar o smartphone do sensor, localizado no caixa de um supermercado, por exemplo, e confirmar a compra –por meio de uma senha ou da leitura de impressão digital nos aparelhos compatíveis.
O executivo responsável pela coordenação do projeto na companhia, Prakash Hariramani, disse que o padrão não deve tardar para ser levado a outros países, incluindo o Brasil. Mas a implantação deve começar por Canadá e mercados na Europa ocidental, como o Reino Unido.
"Como a tecnologia de autenticação é um certificado internacional, logo que alguém começar a implementar isso no Brasil, todos também quererão tê-lo", disse.
No Brasil, as operadoras de pagamentos Cielo e Rede oferecem máquinas equipadas com a tecnologia NFC.
Segundo Luiz Henrique Didier, diretor de inovação da Cielo, o Brasil está pronto para a entrada das empresas de tecnologia no mercado: a maior parte das máquinas da empresa tem NFC (1,4 milhão do total de 2 milhões) e, em até dois anos, todas terão sido atualizadas.
"Com um cartão americano, várias pessoas já fizeram pagamento no Brasil por meio do Apple Pay", conta. "O vendedor está pronto. O que falta é a Apple e o Google falarem com os bancos."
NEGOCIAÇÃO
Para funcionar, os mecanismos dependem da participação das instituições emissoras dos cartões, já que são eles que, no fim das contas, autorizam o pagamento.
Bradesco e Itaú oferecem seus próprios sistemas de pagamento com o celular, por meio de aplicativos, mas em parceria com operadoras.
Nesse segmento, o Google tem como concorrente justamente a sua maior parceira: a Samsung, que está preparando o Samsung Pay para lançar ainda neste ano.
Uma das vantagens do sistema é que ele funciona também com máquinas de cartão convencionais.
Mas o mecanismo só opera inicialmente nos aparelhos "top" do fabricante –o mais barato, Galaxy S6, custa pelo menos R$ 3.299 no Brasil. O Android Pay estará disponível para celulares com sistema nas versões a partir da 4.4 (chamada KitKat).
Para o vice-presidente de pesquisa da empresa de pesquisa Gartner, Van Baker, há espaço para todos nos (há muito tempo) promissores pagamentos digitais. "Ainda é muito incipiente, então há excelente chance de o Google se tornar um fator [importante] nesse mercado."
Por outro lado, diz, nem todos quererão usar esses mecanismos só pela conveniência ou pela novidade. "O comportamento do consumidor não muda rapidamente, e é preciso haver uma boa razão para a mudança. Talvez os vazamentos [como o da rede Target, em que foram acessados dados de milhões de cartões] possam ser um motivador, ao que se tornam mais comuns."
O jornalista YURI GONZAGA viajou a convite do Google