Por Lélio Braga Calhau* - O brasileiro, em muitos casos, se deixa levar pelas efusivas propagandas das grandes fábricas de automóveis e termina por fazer o primeiro mal negócio de sua vida com a compra de um carro. Às vezes, para piorar, chega a ser um duplo mal negócio, porque ele compra financiado um veículo fora de suas reais necessidades e acima de sua capacidade financeira.
Infelizmente, a maioria dos brasileiros, quando vai comprar um carro, só olha o valor da prestação e se ela encaixa no bolso. É só olhar para as propagandas de consórcio de veículos espalhadas pelo Brasil onde, quase sempre, o foco (ao arrepio do Código de Defesa do Consumidor) é o valor da prestação e não o valor total do bem financiado.
Normalmente, vem ainda para cima do consumidor com aquele papo de “custo zero”, “o jeito mais fácil de comprar o seu carro”, etc. Na verdade, sabemos que o jeito mais simples de comprar um carro é o mesmo de todas as outras coisas: trabalhar, poupar e pagar à vista.
Os vendedores de automóveis, muito bem treinados, sabem que um consumidor que entra numa loja já está 60% motivado a comprar um carro. Para outros, os que fazem o “inocente” test-drive, a conversão em vendas, na média, atinge valores superiores a 80% dos clientes. O consumidor desatento já entra numa posição desvantajosa na negociação, sem saber que uma decisão impensada deste porte tem a capacidade de prejudicá-lo financeiramente por muitos anos.
Frases de efeito, todas preparadas nos treinamentos de vendas e disparadas em sequências pré-ordenadas, ajudam a alterar a percepção do consumidor. Algumas dicas, como chamar o cliente pelo primeiro nome para buscar uma maior proximidade, repetir sempre frases com grande conteúdo emocional, como “você merece isso” ou “seus filhos vão adorar” fazem o estrago na percepção do consumidor desatento ou despreparado para a realização do negócio dessa importância.
Comprar um carro é algo muito bom e sempre nos fascina. Mas, tem ônus e responsabilidades muito maiores que só as maravilhas apresentadas nos comerciais das grandes fábricas. O dono do carro tem grandes despesas para a sua manutenção, tributos, multas de radares, seguros (cada vez mais caros), combustíveis subindo fortemente. Compre com a razão e evite se endividar por um bem, que por mais que seja desejado, vai trazer grande impacto para o seu patrimônio e pode afetar a vida de toda sua família por anos.
*Lélio Braga Calhau é Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ e Coordenador do site e do Podcast “Educação Financeira para Todos”.
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