9 de agosto de 2005

PENA QUE NÃO TEM SEGURO (não existe seguro contra corrupção)

Fonte: Antonio Penteado Mendonça - Data: 10/08/2005

A atividade seguradora moderna é capaz de garantir praticamente qualquer risco que ameace a vida do mundo. Mesmo riscos considerados impossíveis de serem segurados atualmente não só têm cobertura, como estes seguros, dependendo do negócio, se tornaram quase que obrigatórios, em função da exigência dos mercados.

Entre eles, é possível citar os seguros profissionais de todos os tipos, e especialmente os chamados seguros "D&O" , que garantem os prejuízos causados por executivos às empresas para quais trabalham, no exercício de suas funções. Além desses, os seguros para o agronegócio se tornaram imprescindíveis para viabilizar a comercialização antecipada das diferentes safras e dos produtos agrícolas que são comprados e vendidos com meses de antecedência em bolsas ao redor do mundo.

Apólices altamente complexas são emitidas para garantir riscos os mais diversos, como montagem e desmontagem de usinas nucleares, lançamento e operação de satélites, riscos decorrentes do uso da internet e das redes e sistemas de comunicações modernos, retirada de produtos defeituosos do mercado, etc.

Também no campo dos riscos financeiros e de crédito, a indústria do seguro tem evoluído de forma extremamente rápida e criativa, apresentado ao mercado apólices capazes de fazer frente a quase todas as situações decorrentes das atividades empresariais modernas. Nessa área o grau de sofisticação é tão grande que até o lucro de grandes empresas pode ser garantido aos acionistas através da contratação de apólices específicas.

No campo das catástrofes, as indenizações pagas pelas seguradoras em conseqüência do atentado de 11 de setembro, que já chegam a mais de 70 bilhões de dólares, são emblemáticas e se contrapõem de forma dramática ao que não foi recuperado após o tsunami do final de 2004, porque os países atingidos não costumam contratar seguros.

Quer dizer, o mundo moderno, ou melhor, os países desenvolvidos, têm na proteção das apólices de seguros uma de suas principais ferramentas de estabilidade e desenvolvimento social. Através delas os prejuízos que podem afetar as rotinas de suas populações são transferidos para as companhias de seguros, que se encarregam de preservar a poupança nacional para ser usada em novos investimentos, geradores de novas riquezas, que aumentam ainda mais a qualidade de vida do povo.

Dentro do fenômeno da globalização, poucas atividades econômicas apresentam uma compreensão tão clara e respostas tão eficazes para as necessidades de proteção e investimentos gerados pela nova ordem e seus desdobramentos. Daí as companhias de seguros e suas apólices estarem, cada vez que acontece algum fato que resulte em perda de vulto, nas primeiras páginas da imprensa mundial. Seu papel conceitual está sendo pragmaticamente cumprido e de forma satisfatória para quem se beneficia dele.

Infelizmente, entre os riscos não seguráveis, o risco da corrupção e da bandalheira tem lugar de destaque, o que nos coloca mais uma vez numa sinuca de bico, já que, não havendo como transferi-los para companhias de seguros, quem paga os prejuízos brutais conseqüentes destas ações, somos nós, a sociedade brasileira, condenada a assistir estarrecida ao que vai aparecendo,diariamente, de podre e de ruim, vendo a coisa pública ser dilapidada, roubada, surrupiada, ou mal usada, em nome de interesses próprios de indivíduos ou grupos que, nos países que contratam seguros, jogariam os envolvidos por longos anos na cadeia, além de afastá-los permanentemente da vida pública e da possibilidade de continuarem roubando, sob os diferentes disfarces e nomes possíveis, o dinheiro da nação.

Para mal dos nossos pecados, não existe seguro contra corrupção, conchavos e outras práticas, que, aqui, atingiram um grau de perfeição raro na história da humanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário